Este é o quarto e ultimo texto da historia iniciado como o título de "Os três TEMPOS e os Novos BÁRBAROS".
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Profissão: CORRETORA DE IMOVEIS
Logo que eu tomei a decisão de sair da
prefeitura, veio também à vontade de mudar de país... a ideia foi logo
compartilhada pelo meu marido. Eu sonhava em ir para algum lugar onde as coisas
funcionassem de melhor forma e onde eu tivesse mais oportunidades. Foi então
que descobri o processo de imigração pro Canadá.
Um dos pré-requisitos para dar entrada no
processo era falar o francês (uma das línguas oficiais do Canadá). Sendo escola
de francês pouco comum no interior, mudar de volta para Belo Horizonte seria o
próximo passa em direção ao nosso desejado futuro.
Para recomeçar em Belo Horizonte, o convite de
um amigo de minha irmã pra trabalhar como corretora num loteamento do
Alphaville Lagoa dos Ingleses foi muito bem vindo. Enquanto trabalhava, me
preparava para passar no processo de imigração. Neste tempo eu fiz o curso de
corretor em SP e tirei meu certificado de trabalho (CRECI).
Entrada do condomínio Alphaville Lagoa dos Ingleses |
Do Alphaville na lagoa dos Ingleses fui para o Villa
da Serra...
Corretor é um profissional autônimo no Brasil,
mesmo tendo que ser fiel a empresa onde trabalha e seguir os horários e as
normas impostas pela empresa, a única remuneração que ele tem é a comissão
quando a venda é fechada. No mais, tudo sai do seu próprio bolso! Tudo! E não é
pouco. A única prova que ele tem que trabalha numa empresa é o contrato de
prestação de serviço, mas isso não lhe garante um salário nem a comissão. E é assim que funciona o trabalho do corretor
no Brasil! Sem garantias e com muita dedicação.
Com os corretores aprendi que, pra conseguir
uma venda, a disputa pelo cliente pode ser traiçoeira. Mas com os donos das corretoras
(nem todos) aprendi que a ganância não tem limite. Vou me explicar.
Trabalhava no lançamento de alguns prédios numa
região muito valorizada, o Villa da Serra... os preços dos apartamentos eram
de, no mínimo, um milhão de reais. A venda de lançamento de um novo
empreendimento estava marcada para um dia x. Anteriormente a data, em reunião
com os corretores, foi passado os valores das comissões (o que já era um pouco
abaixo do valor de mercado). Mas enfim, o que é combinado não é caro. Além da
comissão estipulada, também foi prometida premiação e muitas vantagens para
quem vendesse... todos saíram de lá entusiasmadíssimos!
O dia do lançamento se passou em clima de festa
e boas vendas foram concluídas.
Lançamento Cinecittá - Fechamento de vendas comemorado com champanhe! |
Alguns dias após as vendas, quando ainda
eufóricos fazíamos nossa contabilidade, outra reunião foi anunciada. E com
outra novidade! Aconteceu que nesta reunião além deles anunciarem que não iriam
pagar os prêmios prometidos eles também disseram que iriam dividir em dose
vezes o valor da nossa comissão que o cliente pagou a vista! Simples assim, em
alto e bom som, para quem estivesse presente não ter duvida que eles estavam
anunciando um roubo! Na maior cara de pau!
Como eram conhecidos investidores da bolsa de
valores, a conclusão que se chegou foi que quando os famigerados empresários
viram o montante do dinheiro das vendas mudaram os planos. Eles pegaram a
comissão dos corretores, investiram o montante de todo mundo na conta deles e
resolveram que iriam modificar a forma de nos pagar, seria sem juros, sem
correção e ainda parcelado em doze vezes iguais! Sem cheque pré-datado, e sem
nenhuma garantia do pagamento. Decidiram mudar e ponto final.
Apartamento decorado com vista para as montanhas |
Alguns dias depois eu marquei uma reunião com
os donos da corretora com o argumento de tratar de uma venda. Não sei como eu
consegui conter a raiva de minhas palavras, mas a conversa transcorreu de certa
forma amena apesar de eu sentir que tinha a fúria de um touro nos olhos. Eu
estava disposta a receber meu dinheiro na justiça, se assim fosse preciso. Mas
não foi. Eu fui firme e exigi o combinado! Anunciei que teria que deixar a
empresa deles e que precisava do dinheiro! Até hoje não sei como que eu
consegui sair com o cheque de lá.
O pagamento foi dividido em duas ou três vezes,
não me lembro, eu sai com o dinheiro na mão... mas foi por pouco! Não sei se
meus colegas tiveram a mesma sorte. Não procurei mais saber sobre isso. Eu só
queria sair dali correndo, sem olhar para trás...
Não foi simplesmente azar! Sei que isso acontece
com mais frequência do que imaginamos.
Daquele dia em diante me ocupei com os últimos
preparativos para minha viagem de imigração...
fim.
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